segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Miniconto DESESPERO

Escrevi este miniconto para a edição especial do Terrorzine, "O Corvo", homenagem a Edgar Allan Poe, mas infelizmente o mesmo não foi publicado. Tive o privilégio de desenvolver a capa para ele.

DESESPERO

         Não conseguia parar de fitar aqueles olhos negros. Uma profundidade hipnótica o dominava.
         A agradável maresia que sentia era completada pelos belos sons das ondas, mas mesmo estas maravilhas da natureza não o influenciavam de forma positiva. Apenas a presença daqueles olhos, forçando-o a abrir mão de tudo, é que o afetava.
         Era uma bela ave, pousada ali do seu lado, fitando-o. Suas penas eram magníficas, de uma negritude plena. Seu porte, majestoso e sua influência, profunda. Sua presença o fez chorar, lamentando pela sua mísera vida.
         Não conseguia mensurar há quanto tempo a ave chegara. Sabia apenas que horas se passaram, pois o sol estava prestes a se por. A dor emocional aumentava a cada momento, enquanto olhava para os inquisitores olhos da ave. A lembrança do seu fracasso como filho, pai, marido, provedor, amigo e muitos outros papéis, torturava-o ao nível do desespero. Nos recônditos de sua alma, uma voz abafada tentava dizer que era possível, mas a influência da ave dizia que não.
         Todos aquelas horas em silêncio foram quebradas por um grasnado estridente da ave negra. Foi então que aceitou o conselho e abriu mão, deixando-se cair do parapeito do seu apartamento.
         Pouco antes de fechar para sempre os olhos, viu a ave alçar voo para o lindo céu azul.

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