DESESPERO
Não conseguia parar de fitar aqueles olhos negros. Uma
profundidade hipnótica o dominava.
A
agradável maresia que sentia era completada pelos belos sons das ondas, mas
mesmo estas maravilhas da natureza não o influenciavam de forma positiva.
Apenas a presença daqueles olhos, forçando-o a abrir mão de tudo, é que o
afetava.
Era uma
bela ave, pousada ali do seu lado, fitando-o. Suas penas eram magníficas, de
uma negritude plena. Seu porte, majestoso e sua influência, profunda. Sua
presença o fez chorar, lamentando pela sua mísera vida.
Não
conseguia mensurar há quanto tempo a ave chegara. Sabia apenas que horas se
passaram, pois o sol estava prestes a se por. A dor emocional aumentava a cada
momento, enquanto olhava para os inquisitores olhos da ave. A lembrança do seu
fracasso como filho, pai, marido, provedor, amigo e muitos outros papéis,
torturava-o ao nível do desespero. Nos recônditos de sua alma, uma voz abafada
tentava dizer que era possível, mas a influência da ave dizia que não.
Todos
aquelas horas em silêncio foram quebradas por um grasnado estridente da ave
negra. Foi então que aceitou o conselho e abriu mão, deixando-se cair do
parapeito do seu apartamento.
Pouco
antes de fechar para sempre os olhos, viu a ave alçar voo para o lindo céu
azul.
Gostei; não é aterrador mas é dramático.
ResponderExcluirObrigado Hugo.
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